
Certo dia me fizeram essa pergunta. Não sou pesquisadora da área, mas vejo que faz todo o sentido encontrarmos semelhanças entre nossa cultura e a de países árabes. Isso porque fomos colonizados por portugueses, os quais sofreram influência dos mouros (que eram árabes) durante a idade média.
O estilo de cantoria nordestina que mais se assemelha ao árabe parece ser o aboio. O aboio é um canto sem palavras, feito para tanger o gado, comum também no sul do Brasil, embora nessa região adquira características diferentes da cantoria no nordeste brasileiro. Nesse vídeo é possível perceber as semelhanças entre o aboio nordestino e a cantoria árabe:
Interessante observar que os instrumentos árabes e nordestinos também possuem semelhanças. Por exemplo, a viola caipira e o alaúde possuem cordas duplas. Além disso, o Rababeh e parece com a nossa maravilhosa rabeca!
Evidentemente, o rababeh e o alaúde surgiram antes da rabeca e da viola, fato apontado pelo pesquisador Luis Soler, autor do livro “Origens árabes no folclore do sertão brasileiro”. Ele explica que a expulsão dos árabes da península ibérica marcou o fim da idade média e foi justamente a partir desse período que os latinos (mais especificamente, portugueses e espanhóis) começam a voltar-se mais para festividades.
Diante disso, sentiram a necessidade de recriar instrumentos musicais à semelhança dos instrumentos árabes, já que neste período os árabes já teriam sido expulsos da península ibérica, deixando por lá vestígios da cultura. Ainda de acordo com Soler, os estilos poéticos medievais classificados como tenço, sirventês e loa, caracterizados respectivamente pelo desafio, a sátira e a louvação também influenciaram a cantoria nordestina.
Há ainda outros detalhes contados por Luis Soler, que já foi professor de música da Universidade Federal de Pernambuco, integrante do movimento armorial e autor de outro livro sobre o mesmo assunto, intitulado “As raízes árabes, na tradição poético-musical do sertão nordestino”. Embora ambas as publicações pareçam estar com a venda esgotada, elas continuam rendendo inúmeras discussões e pesquisas!